Hoje eu queimei minha carta...

(Leia isso ao som de: Everywhere I Go - Sleeping At Last )


Eu não queria me sentir assim

Mas, ultimamente tem sido tão ruim
Que eu não consigo me ajudar.

Eu me odeio por chorar.

Uma parte de mim
Dói muito
E eu me sinto tão cansada,
Meu corpo está cansado
Minha poesia soa tão estranha,
Que já não escrevo mais como antes
E eu não consigo respirar
O caos grita dentro de mim.

Sozinha nessa casa,
A inquietação agiu feito luz
A imensidão do vazio de ser
Me toca
Com a ponta da caneta
Sobre o papel
E tenta me desdizer,
Manifestando o desejo,
Traspassando a dor de um corpo inteiro
Construindo uma narrativa sem fim.

Hoje eu queimei minha carta de suicídio,
Sei que verei o entardecer.
O amanhã é incerto
E nunca terei como saber.
Mas, hoje
Viverei para sentir
O meu eu transbordar o ficar.

Anos atrás escrevi um Poema bem diferente dos que eu estava acostumada a escrever e sinto o peso dele até hoje, como eu provavelmente vou sentir o desse também. Ele foi escrito em decorrência do setembro amarelo e da importância significativa que a data tem e teve o intuito de alertar e trazer um assunto de extrema relevância. E eu acho que esse é um dos "poderes" que um escritor tem, tocar e transmitir algo com palavras.

O poema retratava alguém que sofria muito e sozinho, alguém que nao suportava mais sentir tanta dor e não era só sobre uma dor física. Alguém que lutava contra si mesmo mas acabou desistindo de tudo. A questão é o que falar sobre depressão e/ou suicídio não é fácil.

Todos nós ja perdemos algo ou alguém para uma coisa muito ruim...

O poema de hoje, foi inspirado em uma publicação, um desabafo de uma moça em uma rede social. Ela queimou todas as cartas de suicídio que ela já havia escrito antes. Nunca jamais lidas por ninguém. Imaginei palavras, cartas escritas e destinadas para um amor, cartas com palavras de dor e desabafo de alguém que já não mais podia suportar o peso de estar aqui. Eu só pode imaginar que isso poderia acontecer com pessoas próximas de mim e o quanto eu não pensaria duas vezes em tentar ajudar.
A moça queimou todas as cartas dela, mas outras pessoas não. Ela aguentou mais um dia, mas quem nos garante que isso durará por muito tempo?

Até quando alguém pode suportar o peso que é a vida?

Esse ano não tem sido fácil para ninguém, embora todos saibam que a minha intenção aqui seja dizer: "Calma, vai ficar tudo bem", "Você é forte e não está sozinho", "Você é e sempre será amado", eu também quero te falar que é necessário entender que a dor do outro é sempre diferente na nossa, é preciso ouvir empaticamente antes de tudo para tentar conversar e buscar formas de lidar com isso. Todos os dias pessoas diferentes aparecem com problemas diferentes e muitas delas acabaram desistindo e isso só nos lembra que a todo instante é sempre preciso ter carinho com as dores e cautela no trato do problema e saber que não cabe a nós julgarmos o sofrimento do outro. Nunca sabemos como será nossa última conversa com alguém até não termos mais a oportunidade e não conseguimos imaginar a verdadeira extensão da sua ausência.

Conviver com pessoas com depressão, transtorno bipolar, ansiedade e até mesmo com tendências suicidas, sem ter enfrentado essas condições, faz com que encontremos o incomunicável. 
Falar sobre transtornos psicológicos é difícil e não nós fará compreendê-los, mas quero te lembrar que indicar ou buscar acompanhamento saudável dos psicólogos e psiquiatras é sempre a melhor coisa a ser feita. Além disso o Centro de Valorização da Vida (CVV) presta apoio emocional de forma voluntária a todas as pessoas que queiram conversar por telefone discando 188 ou acessando cvv.org.br.





(Esse texto é dedicado ao Filho do Mar,  eu queria que ele estivesse lendo isso. Ele sempre será amado.)

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